26 de maio de 2011

“É impossível abandonar a causa, sempre estaremos ligados”, Vander Rodermel, presidente da União Catarinense dos Estudantes

Na entrevista a seguir você vai conhecer um pouco mais sobre o atual presidente da UCE, Vander Rodermel, e sobre sua gestão. Aqui, ele fala sobre política, sua religião e a relação com a política, sobre futebol e viagens a lugares estranhos.

Durante os dias 10, 11 e 12 de junho, acontecerá na cidade Jaraguá do Sul, no Instituto Federal de Santa Catarina (PUC/Unerj), o 34º Congresso da União Catarinense dos Estudantes , quando uma nova direção vai assumir a direção da entidade. A gestão dos últimos dois anos alcançou algumas vitórias importantes. Em 2009, o movimento estudantil de Santa Catarina conseguiu uma vaga no conselho estadual de educação. “Hoje não basta ocupar a rua, temos que ocupar os espaços de decisão. Essa gestão teve essa preocupação, a de ocupar espaços onde pudéssemos articular para fazer políticas públicas para educação da juventude”, avalia Vander Rodermel, atual presidente da UCE.

O ano de 2010 também foi de grandes conquistas para a gestão. Além de ter organizado o ato “Fora Pavan”, que levou os estudantes de Florianópolis às ruas para protestar contra a corrupção, também conseguiu a implementação do artigo 171, que garantia que as bolsas de estudos concedidas fossem diretamente para os bolsistas, e não para as instituições de ensino. “Essa foi uma grande conquista desse período”, comemora.

Vander é formado em jornalismo, profissão em que quer atuar, chegou a fazer um ano de direito, mas optou por se dedicar ao curso de história, que, ao lado do time do coração e da sua luta política, é uma paixão. “Acho também que complementa o jornalismo”, explica. Nascido em Osasco, em São Paulo, filho de pai mineiro e mãe catarinense, é torcedor fanático do Corinthians. “Meu pai morou muitos anos no rio, é flamengo, minha mãe é vascaína. Acho que nascemos com o time de coração”, justifica.

O jornalista divide seu tempo livre entre os afazeres da igreja que frequenta, práticas esportivas, principalmente corridas, e a praia de Jurerê internacional, sua preferida entre as mais de 40 de Florianópolis, onde mora. A seguir confira uma entrevista com ele, conheça um pouco mais do presidente, como surgiu seu interesse pelo movimento estudantil, o que ele pensa sobre religião e política e sobre o papel das mídias sócias na atividade política.

Quando começou o seu interesse pelo Movimento Estudantil?
Foi em 2003, quando fui convidado para participar como jornalista de um congresso. Eu não sabia o que era um DCE, mas a partir daquele momento percebi como esse trabalho é importante. Ocupei cargos em quase todas as instâncias, até que me tornei presidente. Eu não tinha expectativa de chegar à presidente da UCE. Eu pensava em fazer o movimento estudantil na universidade. Conforme fui me engajando, percebi que a militância poderia ir além das universidades. Durante o congresso houve uma aliança e eu fui escolhido. Fico muito feliz e honrado de ter sido eleito.

Quando você assumiu, quais eram os maiores desafios da gestão?
O grande objetivo era recolocar a entidade no posto que é dela, de entidade estadual que representa amplamente os estudantes, e que consegue fazer as articulações políticas necessárias para agir e alcançar transformações concretas. Além disso, nosso prédio precisava de reforma. Então a gestão foi muito voltada para a reestruturação da entidade.

Você acha que os jovens são desinteressados por política?
Em minha opinião, o jovem não é desinteressado pela política. Mas ele se desinteressa pois há muitos politiqueiros de plantão. A política é um instrumento de poder do povo, e para o povo. Se o jovem perde a perspectiva de mudança, é mais pelo mau testemunho. Um exemplo disso foi ano passado, em 2010, quando fizemos o ato “Fora Pavan”. Distribuímos uma tonelada de abacaxis aqui no centro de Florianópolis para estudantes como forma de repudiar as manobras políticas que estavam acontecendo para que o vice-governador, Leonel Pavan, dificultasse o julgamento das denúncias de corrupção, das quais ele estava sendo acusado.

Você torce para o Corinthians. De quais outros esportes, além de futebol, gosta?
Eu gosto muito de esporte, de vários! Além de futebol de campo e de salão, eu já pratiquei judô, natação, atletismo, handebol e vôlei. Hoje em dia eu estou treinando kung fu. Na sede da UCE temos uma academia que oferece artes marciais, então eu resolvi aproveitar!

Agora, quando terminar a sua gestão, pretende continuar na militância?
É impossível abandonar a causa, sempre estaremos ligados. Eu faço parte de uma juventude que defende que temos que militar até os 29 anos, depois há outras batalhar a serem travadas.

E quais seus planos?
Quero passar no mestrado para jornalismo e trabalhar na minha área, como jornalista. Meu mestrado é sobre redes sociais, chama “a política na era das mídias sociais”. Penso que as redes sociais revolucionaram a política, pois não há controle dessas mídias. É uma alternativa que o povo tem para se informar, circular informação. O usuário é o emissor, receptor, instrumento, tudo, as mídias sociais estão aí e nós precisamos entender como funcionam. Esse instrumento é importante pra política. O Obama deu o ponta pé inicial com a sua campanha, e o resultado foi fantástico. Aqui no Brasil, em 2010, isso já foi utilizado nas eleições. Os candidatos tinham twitter, youtube, flicker, programas online...

Como jornalista, qual o seu sonho?
Meu sonho como jornalista é ter um programa de TV onde eu possa fazer algo com jovens. Eu queria fazer um formato de programa itinerante nas escolas. Eu ainda preciso melhorar o projeto. Mas é algo que eu tenho muita vontade de fazer. Também gostaria de visitar lugares pitorescos, diferentes. Gosto muito de viajar.

Qual foi o lugar mais pitoresco que você já conheceu?
Uma cidade no Pará chamada Cametá. Fui para lá fazer palestras de motivação profissional em algumas empresas. Fui procurar pelo prefeito, lá ele atende na própria casa. Tinha uns jagunços no portão recepcionando as pessoas. Na cidade as pessoas só andam de mototáxi. Ninguém usa capacete, e só andam sem camisa. Além disso, os carros não têm placa. É um outro Brasil dentro de um Brasil que nós conhecemos. O comércio abria às 9h e fechava às 11h30. Eles paravam para o almoço, para comer açaí com pirão. Tudo só voltava a funcionar às 15 horas.

Você toca piano e violão, além de cantar em um coral. Que tipo de música gosta de escutar?
Eu tenho um gosto meio diferenciado. Sou evangélico, então ouço bastante música gospel. Mas também gosto do Chico Buarque, por exemplo. Além disso, acho que a Marjorie Estiano tem uma bela voz!

Você é marxista, como você vê a política e a religião?
Marx falava que o ópio do povo era a religião, mas, apesar disso, acho que só podemos falar daquilo que conhecemos. Ele estava falando da igreja católica, de épocas em que padres dominavam o poder político e conseguiam os votos na missa. Esse tipo de religião é o ópio. A religião tem um papel na sociedade de orientar a conduta espiritual. A política é um instrumento de poder do povo, e para o povo. Procuro separar bem essas duas áreas da minha vida. É difícil, às vezes eu acabo sentindo que tenho duas vidas. As duas têm demandas, tem responsabilidades. Martin Luther King disse: “eu não me assusto com o grito dos injustos, mas com o silêncio dos justos”. A Bíblia fala muito sobre isso, sobre fazer a diferença para o outro, sobre não se calar nunca. Esse mesmo sentindo de injustiça e a essência da militância.

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